sábado, 27 de agosto de 2016

Transamazônica registra em 2015, 68 acidentes com 10 mortes no trecho da rodovia em Medicilândia

Três crateras abertas em um trecho de 50 quilômetros na BR-230, mais conhecida como Rodovia Transamazônica, mostram claramente o abandono e o descaso do governo federal com povo que vive na região, sudoeste do Pará. Nesta segunda reportagem sobre a BR-230 vamos mostrar aos nossos leitores as armadilhas e os dados assustadores de acidentes que aconteceram em 2015, na região de Medicilândia.
IMG_0370
Pista praticamente encoberta por vegetação. Foto: Wilson Soares.
Saindo de Altamira é possível ver que a estrada que levou mais de quatro décadas para ser pavimentada ainda continua com pontes e pontilhões de madeira sobre córregos e igarapés. A sinalização está sumindo no meio do mato que toma conta da lateral da rodovia. A cerca de cinco quilômetros de Brasil Novo, a estrada se afunila e surge a primeira cratera. Seguindo viagem no sentido de Medicilândia, surge a segunda cratera com uma dimensão bem maior que a primeira e que já ultrapassa a metade da pista. 
A rodovia que foi asfaltada há menos de cinco anos está cheia de ondulações e buracos. Apesar de ter passado recentemente por uma operação de tapa-buracos, alguns trechos não foram recuperados.
Já chegando em Medicilândia, no km 85, está um dos pontos mais críticos. As fortes chuvas de fevereiro de 2014 cortaram a rodovia formando uma cratera com uma dimensão de cerca de 100 metros comprimento por 5 metros de profundidade. Para quem não conhece a região, e olhando bem de perto, parece que ali chegou o fim da linha da rodovia, que foi projetada durante o regime militar e inaugurada na década de 70 como símbolo de desenvolvimento. Hoje a obra é sinônimo de atraso e abandono. “A gente fica muito preocupado em ver que a rodovia acabou de ser asfaltada e já está deteriorada desse jeito em tão pouco tempo. Nesses pontos críticos temos notícias toda semana de acidentes. Quantos vão precisar morrer para que o governo federal tome providências?”, desabafou o empresário e pioneiro na Transamazônica, Valdir Narzethi.
Buracos na pista já causaram vários acidentes. Foto: Wilson Soares.
Buracos na pista já causaram vários acidentes. Foto: Wilson Soares.
 As péssimas condições da pavimentação da rodovia já foram denunciadas por pelo menos duas vezes aqui no Jornal A Voz do Xingu, sendo a primeira delas no dia 01 de março de 2014. Seis meses depois que denunciamos uma equipe de técnicos e engenheiros do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) chegou a vir à região e vistoriar os trechos que haviam desmoronado. Na época, a equipe do DNIT chegou inclusive a afirmar que num período de 150 dias, as crateras seriam recuperadas, ou seja, em novembro daquele mesmo ano foi o prazo que o próprio departamento deu para que os trabalhos fossem refeitos e a trafegabilidade voltasse ao normal. Passados três anos nada foi resolvido por parte do DNIT.
Enquanto isso, os acidentes nesses pontos críticos tem sido frequentes. De acordo com dados registrados pelo SAMU de Medicilândia, só em 2015 foram atendidas 49 ocorrências de acidentes que aconteceram entre os quilômetros 66 e 130, trecho da rodovia que corta o município de Medicilândia. Nessas ocorrências foram atendidas 68 vítimas. Desse total 10 pessoas morreram, três dessas mortes aconteceram na cratera do km 85. Uma dessas vítimas foi o agricultor medicilandense Raimundo Nonato, 45 anos, que perdeu a vida quando trafegava de motocicleta pela rodovia e caiu na cratera. “Acredito que o acidente ocorreu porque no local não tem sinalização. Ele vinha à noite e sem visibilidade acabou não vendo o buraco”, disse Ademar Tambara, que é vizinho da vítima.
Quem precisa viajar pela rodovia Transamazônica entre os municípios de Medicilândia e Placas, ambos na região sudoeste do estado, enfrenta um trecho de mais de 150 quilômetros de poeira intensa no verão e atoleiros no inverno, que deixam o trânsito parado. Sem poder seguir viagem, dezenas de caminhões estacionam à beira da estrada e esperam o tempo melhorar. Atoleiros ocupam trechos de até um quilômetro na Transamazônica. Quem tenta passar, se arrisca. “Daqui até Placas está crítico, muito crítico. É prejuízo para quem precisa e para nós né, que precisamos trafegar”, lamenta o motorista Florêncio Dias.
A situação não é diferente para quem precisa ir à cidade de Altamira resolver algum problema. “Eu só vou de mês em mês. Só em caso de extrema necessidade como doença, para fazer exames e consultas. Aí a gente vai porque não tem outro jeito”, contou a aposentada Benedita Coutinho Soares.
O Jornal A Voz do Xingu tentou contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pela manutenção da rodovia, porém até o fechamento desta edição não obtivemos nenhum posicionamento oficial.
A Voz do Xingu

Nenhum comentário:

Postar um comentário