Três
crateras abertas em um trecho de 50 quilômetros na BR-230, mais
conhecida como Rodovia Transamazônica, mostram claramente o abandono e o
descaso do governo federal com povo que vive na região, sudoeste do
Pará. Nesta
segunda reportagem sobre a BR-230 vamos mostrar aos nossos leitores as
armadilhas e os dados assustadores de acidentes que aconteceram em 2015,
na região de Medicilândia.
Saindo
de Altamira é possível ver que a estrada que levou mais de quatro
décadas para ser pavimentada ainda continua com pontes e pontilhões de
madeira sobre córregos e igarapés. A sinalização está sumindo no meio do
mato que toma conta da lateral da rodovia. A cerca de cinco quilômetros
de Brasil Novo, a estrada se afunila e surge a primeira cratera.
Seguindo viagem no sentido de Medicilândia, surge a segunda cratera com
uma dimensão bem maior que a primeira e que já ultrapassa a metade da
pista.
A
rodovia que foi asfaltada há menos de cinco anos está cheia de
ondulações e buracos. Apesar de ter passado recentemente por uma
operação de tapa-buracos, alguns trechos não foram recuperados.
Já
chegando em Medicilândia, no km 85, está um dos pontos mais críticos.
As fortes chuvas de fevereiro de 2014 cortaram a rodovia formando uma
cratera com uma dimensão de cerca de 100 metros comprimento por 5 metros
de profundidade. Para quem não conhece a região, e olhando bem de
perto, parece que ali chegou o fim da linha da rodovia, que foi
projetada durante o regime militar e inaugurada na década de 70 como
símbolo de desenvolvimento. Hoje a obra é sinônimo de atraso e abandono.
“A gente fica muito preocupado em ver que a rodovia acabou de ser
asfaltada e já está deteriorada desse jeito em tão pouco tempo. Nesses
pontos críticos temos notícias toda semana de acidentes. Quantos vão
precisar morrer para que o governo federal tome providências?”,
desabafou o empresário e pioneiro na Transamazônica, Valdir Narzethi.
As
péssimas condições da pavimentação da rodovia já foram denunciadas por
pelo menos duas vezes aqui no Jornal A Voz do Xingu, sendo a primeira
delas no dia 01 de março de 2014. Seis meses depois que denunciamos uma
equipe de técnicos e engenheiros do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT) chegou a vir à região e vistoriar
os trechos que haviam desmoronado. Na época, a equipe do DNIT chegou
inclusive a afirmar que num período de 150 dias, as crateras seriam
recuperadas, ou seja, em novembro daquele mesmo ano foi o prazo que o
próprio departamento deu para que os trabalhos fossem refeitos e a
trafegabilidade voltasse ao normal. Passados três anos nada foi
resolvido por parte do DNIT.
Enquanto
isso, os acidentes nesses pontos críticos tem sido frequentes. De
acordo com dados registrados pelo SAMU de Medicilândia, só em 2015 foram
atendidas 49 ocorrências de acidentes que aconteceram entre os
quilômetros 66 e 130, trecho da rodovia que corta o município de
Medicilândia. Nessas ocorrências foram atendidas 68 vítimas. Desse total
10 pessoas morreram, três dessas mortes aconteceram na cratera do km
85. Uma dessas vítimas foi o agricultor medicilandense Raimundo Nonato,
45 anos, que perdeu a vida quando trafegava de motocicleta pela rodovia e
caiu na cratera. “Acredito que o acidente ocorreu porque no local não
tem sinalização. Ele vinha à noite e sem visibilidade acabou não vendo o
buraco”, disse Ademar Tambara, que é vizinho da vítima.
Quem
precisa viajar pela rodovia Transamazônica entre os municípios de
Medicilândia e Placas, ambos na região sudoeste do estado, enfrenta um
trecho de mais de 150 quilômetros de poeira intensa no verão e atoleiros
no inverno, que deixam o trânsito parado. Sem poder seguir viagem,
dezenas de caminhões estacionam à beira da estrada e esperam o tempo
melhorar. Atoleiros ocupam trechos de até um quilômetro na
Transamazônica. Quem tenta passar, se arrisca. “Daqui até Placas está
crítico, muito crítico. É prejuízo para quem precisa e para nós né, que
precisamos trafegar”, lamenta o motorista Florêncio Dias.
A
situação não é diferente para quem precisa ir à cidade de Altamira
resolver algum problema. “Eu só vou de mês em mês. Só em caso de extrema
necessidade como doença, para fazer exames e consultas. Aí a gente vai
porque não tem outro jeito”, contou a aposentada Benedita Coutinho
Soares.
O Jornal A Voz do Xingu
tentou contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), responsável pela manutenção da rodovia, porém até o
fechamento desta edição não obtivemos nenhum posicionamento oficial.
A Voz do Xingu
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