Como resolver o trânsito nas grandes cidades?
A CIDADE PÁRA: CONGESTIONAMENTOS, PLANEJAMENTO URBANO DEFICIENTE, ACIDENTES, TRANSPORTE PÚBLICO LOTADO E CARROS COM UM SÓ PASSAGEIRO. O TRÂNSITO SATURADO ATINGE AS PRINCIPAIS CIDADES PELO MUNDO. MAS COMO CADA UMA TRATA O PROBLEMA? A QUAl ATIVIDADE DEVE-SE DAR MAIS ATENÇÃO? É POSSÍVEL RESOLVER DEFINITIVAMENTE O CAOS VIÁRIO EM UMA CIDADE JÁ NO LIMITE DE SATURAÇÃO? O TEMA É CADA DIA MAIS POLÊMICO E ATINGE DIRETAMENTE A VIDA DE TODOS OS CIDADÃOS DAS METRÓPOLES. AU CONVERSOU COM ESPECIALISTAS EM TRANSPORTE E PLANEJAMENTO URBANO PARA SABER: AFINAL, COMO RESOLVER O PROBLEMA DO TRÂNSITO NAS GRANDES CIDADES?Em São Paulo, 1/3 dos deslocamentos são feitos a pé. Alguém conhece alguma iniciativa para organizar o trânsito pedestre? Outros 1/3 são feitos em modos coletivos e as condições precárias são visíveis. Nessas condições, quem não sonha em ter um carro e estar livre do drama dos ônibus, trens e metrô superlotados? Existem ações simples que podem ajudar o trânsito na cidade, e que passam pela cidadania, educação, fiscalização, logística, planejamento urbano e acesso ao Centro da cidade, que guarda 20% de seus imóveis vazios enquanto a população ocupa novas periferias. É necessário ter coragem de buscar as soluções primeiras, que não necessariamente envolvem recursos financeiros, mas, sobretudo, trabalho, imaginação, convencimento, mudança de expectativa. O problema do trânsito está ligado à gestão da mobilidade. Enquanto o enfoque for exclusivo de medidas ligadas à melhoria das condições de trânsito dos automóveis particulares, continuaremos a ter mais carros nas ruas: o rodízio abriu de uma única vez 20% de espaço para novos carros. A política pública deve priorizar a mobilidade do cidadão, que deveria ser ao mesmo tempo pedestre e usuário dos diversos modos de transporte, sendo o carro apenas um deles. Assim como ocorre com a função social da propriedade, deve-se abrir o debate sobre a apropriação individual do espaço público e coletivo.
Renato Balbim, especialista em mobilidade urbana e coordenador do Programa de Reabilitação de Áreas Centrais do Ministério das Cidades
Só a malha de metrô conforme define o PITU-2025 (Plano Integrado de Transportes Urbanos), complementada por outros meios de transporte coletivo, tem fôlego para resolver o problema em profundidade. Estamos coordenando um trabalho de aprofundamento do PITU, introduzindo de modo calculado o zoneamento da cidade, uma pré-condição para a solução dos problemas de congestionamento. Sem essa coerência obtida com o direcionamento da Lei de zoneamento e do sistema de circulação que deverá levar de dez a 20 anos para ser conseguida, não se sai da incoerência da produção imobiliária que acrescenta moradia para uma classe média baseada no uso do automóvel. Reequilibrar a oferta de emprego e residência levando mais empregos para a periferia e mais moradias para o centro esvaziado é outra prioridade. O metrô, ao retirar significativamente automóveis da malha viária, aliado ao pedágio urbano (que por sua vez acelera a implantação do metrô), possibilita a definição de parâmetros ambientais relacionados à dosagem modal e aos avanços no uso de motores menos poluidores. Isso cria condições para reverter a degradação do espaço público como um espaço de convivência, a principal qualidade de urbanidade a ser restaurada em qualquer cidade que aspire ser referência.É difícil falar do trânsito e do congestionamento de São Paulo sem evocar suas origens. Além do aumento da frota, um elevado número de obras executadas de forma aleatória – e a qualquer preço – alimentou o mau uso do automóvel e andou na contramão de soluções para o conjunto da mobilidade da população. É preciso lembrar o quanto técnicos em transporte rejeitaram a evidente e poderosa relação entre as políticas de transporte público e as premissas de uso do solo urbano. Entre 1940 e 1950, quando São Paulo era "a cidade que mais crescia no mundo", já estava instalado o padrão periférico de crescimento, que responde em grande parte pela atual situação do trânsito. O sistema viário voltado para o ônibus, baseado num mínimo de investimento, alcançando qualquer ponto, mostrou a força do transporte público sobre pneus. A qualidade nunca foi uma premissa. O ponto crítico é a conjugação do deficiente transporte público e o aumento da frota de veículos. As soluções emergenciais devem buscar uma linha de gestão com ajustes que privilegiem a distribuição dos automóveis no sistema viário principal de forma a acomodar melhor a frota em horários distintos. Como a concentração do congestionamento coincide com a cidade mais central e melhor servida pelo transporte público, a solução evidente e emergencial, visando a modificar o uso do automóvel particular, é o pedágio urbano dentro de um perímetro bem delimitado.
Cândido Malta, urbanista e diretor da Urbe – Planejamento, Urbanismo e Arquitetura
Regina Meyer, arquiteta, urbanista e professora da FAUUSP
A questão é relacionada a três principais atividades: trânsito, transporte e uso do solo. Uma mudança no uso do solo – uma área residencial que passa a abrigar restaurantes e escolas, por exemplo – acarreta um fluxo maior, com possibilidade de congestionamento. Mas a legislação não permite que órgãos de trânsito vetem tipos de empreendimento em determinados locais, apenas que encontre alternativas para um local já saturado. Hoje, em São Paulo, são realizadas 30 milhões de viagens diárias. 1/3 delas a pé, 1/3 por transporte coletivo e 1/3 por transporte individual – o último com taxa de ocupação baixíssima: apenas 1,2 passageiro por veículo. O ideal é que se investisse no transporte público para haver uma migração dos passageiros dos veículos individuais para o coletivo. Sob a ótica dos órgãos de trânsito, é importante que haja uma interação com o cidadão. O website da CET possui informações em tempo real exclusivas para jornalistas que, em breve, serão abertas a todos. Essas informações influenciam na decisão das pessoas em viagens flexíveis, como lazer e compras, por exemplo. Além disso, é fundamental o investimento em tecnologia: monitoramento para reagir rapidamente diante de problemas como quebra de veículos, além de semáforos inteligentes são investimentos importantes em um sistema viário que está no limite de sua saturação.
Adauto Martinez Filho, diretor de operações da CET
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